Dream Theater – 30 de setembro de 2014 – Pepsi On Stage
Na última terça-feira, Porto Alegre recebeu pela terceira vez o maior expoente do Prog Metal, o Dream Theater. O quinteto de Nova York vem ao Brasil divulgando seu último álbum, homônimo, lançado em 2013. Nesta tour a banda apresenta um show de três horas de duração, com intervalo.
Após a abertura, realizada pelo guitarrista porto-alegrense Guga Munhoz (que se apresentou sozinho com sua guitarra), o público aguardou por aproximadamente meia hora até o início do show do Dream Theater, que se deu através de um vídeo projetado sobre a cortina que cobria o palco. Ao som de “False Awakening Suite”, as imagens retratavam as artes de todos os álbuns de estúdio da banda, mexendo com as reações do público à medida que iam identificando cada uma delas. Não é novidade que o Dream Theater está entre as bandas com os fãs mais devotos, e nesta noite tal admiração começou a aparecer bem cedo.
A primeira metade do show foi, propositalmente, bastante escassa de clássicos. Na primeira uma hora e meia, o Dream Theater priorizou seus três últimos álbuns, com exceção de “Trial of Tears”, do álbum “Falling Into Infinity”, de 1997. O set, que contou nesse primeiro ato com “On The Backs of Angels” e “Breaking All Illusions”, do álbum anterior, “A Dramatic Turn of Events”, “The Shattered Fortress”, a única de “Black Clouds and Silver Linings” (antepenúltimo lançamento da banda), além de algumas faixas do novo álbum, como “The Enemy Inside” – a primeira após a queda da cortina – as carismática “The Looking Glass” e “Along For the Ride” e a extremamente cansativa “Enigma Machine”, instrumental de 6 minutos que não desempenha papel algum além de reforçar os estereótipos de virtuosismo que volta e meia recaem sobre a banda. A canção agradou somente aos mais fanáticos e ainda terminou com o famigerado solo de bateria.
Durante o intervalo, um cronômetro mostrava em contagem regressiva o tempo restante para o retorno da banda e alguns vídeos bastante divertidos entretinham o público. Imagens de fãs coverizando músicas do Dream Theater, comerciais (fictícios) de bonecos dos integrantes, animações e cenas de bastidores distraíram a plateia enquanto a banda descansava.
No segundo ato, a banda revisitou um de seus álbuns mais importantes: “Awake” de 1994, que completa 20 anos. Um dos pontos mais altos do show se deu nessa segunda metade, quando fãs mais tradicionais se uniram aos “apenas simpatizantes”, apreciando composições que ajudaram a catapultar o Dream Theater, como “The Mirror”, “Lie” e a belíssima “Space-Dye Vest”. Antes de a banda se retirar novamente, a ‘intrusa’ “Illumination Theory”, do novo álbum, veio para o que seriam 20 minutos de um modo de composição que pode ser chamado de “colcha de retalhos”: partes extremamente destoantes, que parecem não dialogarem entre si, unidas forçadamente em uma única canção, e claro, muitos solos, mudanças de andamento, métrica e tudo o que se espera do grupo.
Após a saída programada antes do bis (também conhecido como “encore”), curiosamente pouquíssimos fãs clamaram pela volta da banda. LaBrie, Petrucci, Myung, Rudess e Mangini voltaram, felizmente, para acrescentar ao show mais alguns clássicos do Dream Theater, revivendo nesse momento final o álbum “Metropolis, Pt. 2: Scenes From A Memory”, com quatro canções, destacando-se a dobradinha entre “Overture 1928″ e “Strange Deja Vu”.
Por mais que o espetáculo tenha durado três horas, o Dream Theater acaba sempre por frustrar expectativas de fãs sedentos por ouvir ao vivo as músicas que consagraram a banda. “Images and Words”, possivelmente o álbum mais clássico do grupo, não foi lembrado em momento algum. Composições fortes e marcantes como “Pull Me Under”, “Another Day” e Take The Time” fizeram falta. “As I Am”, do álbum “Train of Thought”, tem potencial para levantar plateias a cada show, mas também foi ignorada, assim como outras brilhantes faixas do próprio Awake. Tudo isso em detrimento de composições que, de novas, trazem somente a data de lançamento. O Dream Theater não se reinventa. A repetição (trazendo o que há de melhor, mas também o que há de pior nela) se faz presente nos setlists da banda a cada álbum e a cada nova turnê.
Um grande espetáculo de som, luz, música, entrosamento e técnica, sempre. Mas que mais uma vez deixou a desejar em termos de repertório.
SETLIST:
Ato 1
False Awakening Suite
The Enemy Inside
The Shattered Fortress
On the Backs of Angels
The Looking Glass
Trial of Tears
Enigma Machine
(solo de bateria)
Along for the Ride
Breaking All Illusions
Act 2
The Mirror
Lie
Lifting Shadows Off a Dream
Scarred
Space-Dye Vest
Illumination Theory
Encore:
Overture 1928
Strange Déjà Vu
The Dance of Eternity
Finally Free
Por Murilo Bittencourt
Fotos: Bárbara Sudbrack